29 novembro 2012

Bom dia.

"Droga, estou atrasada" - Chiei.
"Novidade!" - Gritou Luca do banheiro onde estava.
"Ôh Sr. Pontualidade, acho que você esqueceu os seus 10 minutos de atraso. Ainda contando" - Fiz careta da porta da cozinha que dava pro espelho refletindo-me de forma que fosse possível ser vista.

Ele parou de escovar os  dentes e deu um sorriso babado entre espuma de pasta e um ou dois dentes perdidos no verde menta. Era segunda, e como sempre, estávamos atrasados. Atrasados para um "trabalho" bacana, pelo menos. Eu pesquisadora e licenciada em História; ele um graduando em "Alguma coisa" da Computação, que eu nunca entendia, mas que ele adorava e vê-lo feliz me fazia adorar também.

"Amor, separa um café e um pedaço de baguete pra mim." - Ele pediu com jeitinho me olhando iluminado pela luz trêmula do sol que nascia, jogando seus raios pela cortina. Não neguei.

Morávamos juntos há alguns meses, poucos para que as pessoas considerassem um casamento, porém, muitos para não nos considerarem "apenas namorados". O plano era esse, viver na linha tênue entre a constante novidade e instabilidade divertida de um namoro e as obrigações, ainda que sutis, de uma vida de casados. Sem rótulos, eu sempre disse; ele sempre aceitou.
Luca terminou o café antes de mim e ficou a me observar a ler distraída, um livro de contos indianos no qual estava apaixonada no momento. Eu tinha que ler algo antes de sair de casa, não importava o quão atrasada estivesse ou a pouca quantidade de linhas que passaria os olhos por cima; eu iria ler. Ele ria com isso, achava tolo e lindo, mas sempre me entendia. Chegando mais perto ele sussurrou uma ou duas coisas no meu ouvido; eu ri. Estávamos atrasados, ora. Mas a cama também ainda estava desfeita. Beijou-me uma, duas; na terceira larguei livro, caneca e pão na mesa. Mão no seu ombro, e tudo parecia a primeira vez. A primeira vez de novo. Outra vez. 
Mais do que trabalhar nós queríamos ser felizes. É incoerente, eu sei, muitas pessoas acham que ser feliz implica no tal dinheiro; mas pensávamos diferentes, sempre. Sentir o gosto de pasta de dente, café e sono em um beijo dele e vice e versa era um ritual, que mesmo sendo esporádico era magnífico.
Duas horas depois estávamos prontos para encarar o mundo, porém agora, dispostos.
Nossos chefes entenderão, pensei. Ou talvez não, relutei. Mas o que importa?

"Droga, estou atrasada" - Chiei mais uma vez.

Mas agora olhei para ele, chaves do carro na mão e um rosto contente me esperando a porta. O seu cabelo desgranhado, o corpo robusto e um rosto com barba por fazer o deixava com um certo ar másculo, disfarçando assim seu jeito de menino.
Percebi então que tudo valia a pena, cada minuto, os atrasados ou não; porque independente do que pudesse acontecer, eu ainda estaria com ele. Pois estar com ele, mesmo que para atrasar deixava o dia com seu devido valor acertado. E a garantia do meu "Bom dia!" bem humorado para o mundo também.


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